domingo, 18 de outubro de 2009

Pudesse eu ...

Se eu pudesse ...

É muito normal ouvir dizer "ai se eu pudesse...", "se fosse eu a decidir ...", "se eu mandasse ...". Muitas vezes não nos é possível mesmo fazer nada como por exemplo impedir a morte de alguém que está num estado muito grave! Mas outras vezes, esta resignação é a desculpa para uma saída mais tranquila, para uma solução mais suave e sem constrangimentos ou confrontos.

Sinto que de uma forma geral nós somos o país do "mas pronto ...", resignamo-nos a coisas, grandes ou pequenas, aceitamos tantas coisas sem questionar, mesmo as que nos dizem respeito.

Moldamos a nossa vida ou atitudes para ir de acordo com o socialmente aceite, com o politicamente correto e daí, vem o meu desgosto com o "ai se eu pudesse ...".

Enquanto temos vida pudemos fazer tudo! Ir a Marte, à China ou apenas até Sintra numa tarde de chuva. Amar o que fazemos todos os dias, amar o que fazemos como escape à rotina  ou amar alguém que não nos ama.

Enquanto somos seres vivos e activos podemos fazer tudo, às vezes o que não temos é "... vontade...". A vontade, o querer, não o poder!

Por isso acho que deveríamos dizer "ai se eu tivesse vontade ...", "ai se eu quisesse ...", porque quando nós temos vontade "my god", conquistamos o Mundo! .... mas pronto!


«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»


MENSAGEM, Fernando Pessoa


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Voltei ....

Olá, voltei de uma viagem cansativa e interessante.

Não sou grande fã de viagens de turismo por isso visitar igrejas e museus apenas por colecção não é para mim. Gosto de ficar nos lugares, sentir o cheiro das terras ouvir o som das pessoas que falam uma língua diferente e onde eu tento perceber o que dizem apenas pelas expressões.
É tão bom ficar numa esplanada a apanhar sol a ver a cidade a passar à frente do meu chá fumegante, sentir o pulso da gentes enquanto as fito na companhia de um cigarro.

É assim que me sinto bem, é assim que gosto de ficar à espera que a cidade e as gentes me embalem e me engulam, para que fique em mim o sabor do "suvenir" mais gratificante de todos: a experiência que não se esquece.

A memória de uma tarde de sol, de um dia de chuva que é mais do que água que cai, um pôr do sol entre duas montanhas, igual a tantos outros, mas que por eu ter podido assistir ali em primeiro balcão, é mágico!

Voltei e trago na minha bagagem as pessoas, os locais, os cheiros e os sabores. É bom sair, ficar longe de tudo, mas voltar à nossa almofada ... hummmmm! É bom demais, damos outro valor ao que temos! Por isso gosto de sair, sair para voltar e perceber outra e outra vez que apesar de tudo gosto muito de ser quem sou!

Mas o regresso foi ainda mais maravilhoso, tinha à minha espera o meu peixinho. Tinha nos olhos uma luz que ilumina um oceano inteiro. Uma luz que queria tanto voltar a ver, que queria ver todos os dias ... mas pronto!

Por longos instantes nada vem perturbar a harmonia desta hora única.
Para lá desta varanda, depois da praia e do oceano em frente,
existe o mundo e todas as suas metrópoles.
Mas há momentos mágicos que suspendem o tempo e o mundo, como o deste crepúsculo.
Como no Out of Africa, quando Meryl Streep diz para Robert Redford:
'Tudo o que disseres agora, eu acredito.'"



segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Estou longe ....

Estou longe de tudo e de todos, literalmente estou numa realidade que apesar de parecer ou querer ser ocidental, não o é de facto.

Mas aqui, neste sítio onde há de tudo mas apenas para quem tem dinheiro. Onde convivem os sonhos de liberdade com os preconceitos sociais, aqui eu estou longe de tudo ....

Longe de quem me entende, longe de quem não me entende, aqui eu posso ser o que quiser!

Posso ser mais um na rua, um anónimo que passa e sorri para a senhora da loja da esquina e para quem ela sorri de volta sem emitir uma palavra, apenas sorri com um sorriso intercultural que ulltrapassa a barreira da lingua!

Aqui não vejo o mar, o meu peixinho ficou longe, ficou num mar onde entro por vezes, por momentos, mas de onde tenho de sair apesar de não querer.

Andar aqui a sonhar com o mar, longe dele mas tão perto. Ando, vibro, sonho com um mar onde posso nadar com o meu peixinho. Sei que é um sonho impossível pois somos de mundo diferentes!

Quero voltar.... quero tanto voltar, não prá minha rotina mas pró meu peixinho, levo-lhe a saudade de o ter perto de mim, levo a vontade de lhe dar a mais singela das prendas, um bolo! Será que os peixes gostam de bolo? Espero que sim, espero que o bolo não se desfaça no rio de saudades que atravessa o meu coração.

Tenho saudades da minha terra, dos cheiros, dos sabores do café, da agua e apesar de ser esquisito, do meu peixinho lindo!

Mas pronto ... aqui nesta solidão sonho com o mar, vejo as ondas e sonho que uma um dia me traga o meu peixinho....

"Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma."

Fernando Pessoa