Há uns dias, enquanto me deliciava com iguarias num típico restaurante de fast food, passou pelas mesas um empregado do restaurante que procurava o dono de um carro que estava a bloquear a passagem de um outro veiculo. Até aqui tudo normal, é algo que acontece tantas vezes e em tantos restaurantes até porque o civismo dos condutores e a preocupação generalizada com os outros é uma constante na nossa sociedade mas pronto....
Mas o que me leva a deitar cá p'ra fora este episódio é o facto de uma das personagens desta história, o funcionário, ter um problema de dicção e, além disso, mostrava sinais de uma grande deficiência física.
Apesar de se movimentar com alguma dificuldade a sua voz custava a sair e era notório o esforço que fazia para falar e se fazer entender. Ele não poderia nunca ser colocado no atendimento ao público pois a sua dificuldade em comunicar é grande.
Apesar de todos os contras e com muito mais colegas de trabalho que se expressam muito melhor e sem esforço algum, ele com os seus problemas veio fazer esse trabalho.
Ainda ouço nitidamente a pergunta "Algum dos senhores tem um Peugeot 405", dizer isto a desconhecidos, uma banalidade para tantos, era um desafio para ele.
Chegou ao pé da minha mesa, respirou fundo e convictamente lá perguntou gaguejando, passou para outra e outra mesa até que encontrou o dono do tal carro.
O ar de vitória que ele tinha estampada no rosto meio deformado, a satisfação de ter conseguido fazer aquilo, deixou-me perplexo. Eu que me lamentava pela minha pouca sorte, pelos meus problemas, fiquei ali a sentir-me tão pequeno.
Eu que não tenho problemas de expressão nem limitações físicas e fico com pena de mim tantas vezes, só queria ter aquela força para contra tudo e contra todos encontrar os meus "Peugeot's", mas pronto ....