sábado, 19 de dezembro de 2009

Algum dos senhores tem um Peugeot 405 ...

Há uns dias, enquanto me deliciava com iguarias num típico restaurante de fast food,  passou pelas mesas um empregado do restaurante que procurava o dono de um carro que estava a bloquear a passagem de um outro veiculo. Até aqui tudo normal, é algo que acontece tantas vezes e em tantos restaurantes até porque o civismo dos condutores e a preocupação generalizada com os outros é uma constante na nossa sociedade mas pronto....

Mas o que me leva a deitar cá p'ra fora este episódio é o facto de uma das personagens desta história, o funcionário, ter um problema de dicção e, além disso, mostrava sinais de uma grande deficiência física.

Apesar de se movimentar com alguma dificuldade a sua voz custava a sair e era notório o esforço que fazia para falar e se fazer entender. Ele não poderia nunca ser colocado no atendimento ao público pois a sua dificuldade em comunicar é grande.

Apesar de todos os contras e com muito mais colegas de trabalho que se expressam muito melhor e sem esforço algum, ele com os seus problemas veio fazer esse trabalho.

Ainda ouço nitidamente a pergunta "Algum dos senhores tem um Peugeot 405", dizer isto a desconhecidos, uma banalidade para tantos, era um desafio para ele.

Chegou ao pé da minha mesa, respirou fundo e convictamente lá perguntou gaguejando, passou para outra e outra mesa até que encontrou o dono do tal carro.

O ar de vitória que ele tinha estampada no rosto meio deformado, a satisfação de ter conseguido fazer aquilo, deixou-me perplexo. Eu que me lamentava pela minha pouca sorte, pelos meus problemas, fiquei ali a sentir-me tão pequeno.

Eu que não tenho problemas de expressão nem limitações físicas e fico com pena de mim tantas vezes, só queria ter aquela força para contra tudo e contra todos encontrar os meus "Peugeot's", mas pronto ....