Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada. Fernando Pessoa
Hoje ouvi na rádio um pensamento curioso, "As férias são como as flores!", depois fiquei a pensar nisto.
Há flores que são bem giras e coloridas mas são só isso, não tem aroma e muitas vezes a imagem delas na nossa memória é mesmo muito pequena, assim como algumas férias servem só de desculpa para o tempo e o dinheiro que gastámos nelas.
Há férias que são boas, que nos fazem sentir bem por nos levarem a viver um desejo, um sonho, uma companhia e sim há flores que tem um efeito igual, são muito bonitas enquanto duram, mas no fim são apenas uma memória que se vai esfumando no tempo e depois nem das cores ou do aroma nos lembramos.
Mas as flores que mais gosto são aquelas que me surpreendem, a acácia, por exemplo, uma árvore que se enche de pequenas flores amarelas, simples e singelas, consegue encher o ar com um aroma que, gostemos ou não, ninguém lhe fica indiferente.
São como estas flores simples, inesperadas, intensas e impossíveis de não nos tocarem de alguma forma que são as minhas férias de sonho. Podemos ter férias de sonho dentro de nossas casas, dentro das ruas da cidade que nos conhece os passos.
Estarmos abertos para ser surpreendidos pelo inesperado com um momento, um dia, um almoço, uma sesta, uma conversa ou uma qualquer coisa que nos salta à frente e nós termos a coragem suficiente para não lhe virar a cara.
São estas experiências que nos marcam para toda vida ou apenas até às próximas férias. São estas memórias que nos trazem um sorriso quando pensamos nelas, tal como a saudade que sinto da minha infância quando cheiro inesperadamente o forte aroma doce das acácias.
Este ano as minhas férias forma como as acácias simples, mas inesquecíveis. Gostaria de voltar a ter uma ou muitas férias assim, seria um sonho bom, mas pronto!
Até lá fico com a memória dos momentos únicos e especiais, são esses que me fazem viver!
Quero partilhar a música que me deixa um arrepio bom cada vez que a ouço, a ideia de podemos viver num momento o que sonhámos uma vida inteira, assim, só num momento!
Há dias, situações, momentos em que nos sentimos uns autênticos tagarelas.
Eu, em muitas ocasiões olho para mim e penso "já te calavas...". Ás vezes falamos mesmo demais. Quando tomados pelo desejo falamos ainda mais, falamos e sonhamos que os olhos de quem nos ouve nos ouve fiquem embevecidos, ainda que lhes digamos as maiores tonteiras. Temos todas as palavras e a outra pessoa tem todas as qualidades.
Mas um dia acordamos e sem saber porquê as palavras que dizemos ao outro não trazem sentimentos agarrados, repetem-se frases gastas que se dizem porque sempre se disseram. E pior temos medo que o outro perceba que estas frases, que antes tinham um mundo de significados, agora têm um grande e absoluto NADA.
Porquê que isto acontece? Quem me pode dizer o que fazer para não as gastar. Não sei ainda se elas se gastam por excesso de uso ou por poupança. Será que se gastam por não serem devolvidas quando as dizemos cheios de sentimento. Será que se são os sentimentos que se gastam e levam as palavras com eles.
Tenho medo de um dia voltar a perceber que as perdi, tenho ainda mais medo de sentir que alguém as perdeu e tem pena de me deixar isso transparecer.
Sentir que as nossas palavras são um prazer para quem as ouve é bom demais. Descobri isso em mim, descobri que isso é muito bom de sentir.
Mas também senti como é não ter palavras para dizer a alguém. Isso não quero voltar a sentir.
Gosto muito de sonhar e levar os outros a sonhar com as nossas palavras é muito bom e não faz mal a ninguém! Acho mesmo que se sonhássemos mais, seriamos menos carrancudos e talvez não gastássemos tanto as PALAVRAS! ..... mas pronto!....
"Adeus" de Eugénio de Andrade dito por Mário Viegas.