segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Gastar as Palavras

Há dias, situações, momentos em que nos sentimos uns autênticos tagarelas.
Eu, em muitas ocasiões olho para mim e penso "já te calavas...". Ás vezes falamos mesmo demais. Quando tomados pelo desejo falamos ainda mais, falamos e sonhamos que os olhos de quem nos ouve nos ouve fiquem embevecidos, ainda que lhes digamos as maiores tonteiras. Temos todas as palavras e a outra pessoa tem todas as qualidades.

Mas um dia acordamos e sem saber porquê as palavras que dizemos ao outro não trazem sentimentos agarrados, repetem-se frases gastas que se dizem porque sempre se disseram. E pior temos medo que o outro perceba que estas frases, que antes tinham um mundo de significados, agora têm um grande e absoluto NADA.

Porquê que isto acontece? Quem me pode dizer o que fazer para não as gastar. Não sei ainda se elas se gastam por excesso de uso ou por poupança. Será que se gastam por não serem devolvidas quando as dizemos cheios de sentimento. Será que se são os sentimentos que se gastam e levam as palavras com eles.

Tenho medo de um dia voltar a perceber que as perdi, tenho ainda mais medo de sentir que alguém as perdeu e tem pena de me deixar isso transparecer.

Sentir que as nossas palavras são um prazer para quem as ouve é bom demais. Descobri isso em mim, descobri que isso é muito bom de sentir.
 Mas também senti como é não ter palavras para dizer a alguém. Isso não quero voltar a sentir.

Gosto muito de sonhar e levar os outros a sonhar com as nossas palavras é muito bom e não faz mal a ninguém! Acho mesmo que se sonhássemos mais, seriamos menos carrancudos e talvez não gastássemos tanto as PALAVRAS! ..... mas pronto!....


"Adeus" de Eugénio de Andrade dito por Mário Viegas.